Opinião: A Rapariga-Corvo de Erik Axl Sund



 
A psicoterapeuta Sofia Zetterlund está a tratar dois pacientes fascinantes: Samuel Bai, um menino-soldado da Serra Leoa, e Victoria Bergman, uma mulher que tenta lidar com uma mágoa profunda da infância. Ambos sofrem de transtorno dissociativo de personalidade.

A agente Jeanette Kihlberg, por seu lado, investiga uma série de macabros homicídios de meninos em Estocolmo. O caso está a abalar a investigadora, mas não tem tido grande destaque devido à dificuldade em identificar os meninos, aparentemente de origem estrangeira.


Tanto Jeanette como Sofia são confrontadas com a mesma pergunta: quanto sofrimento pode um ser humano suportar antes de se tornar ele próprio um monstro?


À medida que as duas mulheres se vão aproximando cada vez mais uma da outra, intensificam-se os segredos, as ameaças e os horrores à sua volta.

 




O livro é-nos apresentado com as perspectivas de Sofia Zetterlund, Victoria Bergman e Jeanette Kihlberg. O início de alguns capítulos têm singularidades gráficas, no que à forma diz respeito, que vou deixar o leitor desvendar.

Uma das características dos livros policiais "nórdicos" é a critica social, e a perspectiva mais realista do enredo e por conseguinte, em minha opinião, mais honesta e pura, contudo também um pouco mais soturna do que a generalidade dos policiais. Este é concerteza um dos subgéneros que mais aprecio, e sobre o qual mais me tenho debruçado em questões de investigação literária. (Que espero que venha a dar frutos brevemente no blog.)

Os temas abordados são a pedofilia, o estupro, a humilhação, a violência doméstica, a repressão, o racismo e a humanidade perdida em prol de conveniências económicas e politicas.

Este livro sobressai, pela forma, pelo conteúdo e a intensidade com que o entrega na leitura. É dilacerante a descrição e contextualização de algumas partes do enredo, é impossível não sentir o coração apertado, é impossível conseguirmos criar uma barreira acreditando que o que lemos é mera ficção. O conteúdo é muito flagrante para não nos marcar a ferro e fogo e o conseguirmos largar na próxima leitura. O efeito pretendido de "abalar consciências" é sobejamente atingido.

Quanto às personagens:
Sofia Zetterlund, a psicoterapeuta, revela a humanidade, uma culpa oculta e um profissionalismo vincado. Na sua construção vislumbrei um inconformismo latente. Envolvida emocionalmente com os seus pacientes

Victoria Bergman, revela por sua vez, uma fragilidade e perturbações tão fortes e tão credíveis que arrepiam. 

Jeanette Kihlberg, a agente, é-nos apresentada como uma trabalhadora afincada, que apesar de eficiente sente a falta de reconhecimento profissional por ser mulher. Vive com algumas dificuldades financeiras, e sustenta o seu marido, um artista que não ousa expor os seus trabalhos e que não contribui na economia financeira familiar. 

Este é um triller psicológico negro que envolve uma carga emocional muito grande. Tem tanto de arrojado como tem de chocante. Faz parte das minhas recomendações dentro do género.


Se gostei? Sem sombra de dúvida que sim. Este livro conquistou uma posição de relevo na minha estante.  Gostei da forma com os autores trabalharam as personagens, como jogaram com o enredo e como encaixaram as peças do que à partida parecia um complexo puzzle. 

Notas:
Este foi um dos livros (escolhidos) que levei comigo de férias, juntamente com o segundo volume da trilogia "Fome de Fogo", que nos próximos dias também aqui deixarei a opinião. Os dois livros foram algumas das minhas cirúrgicas aquisições para o Verão.

No decorrer das minhas leituras, por vezes, ouço musica, e houve uma das canções que se encaixou tão perfeitamente com esta trilogia que não resisto em deixar aqui, Sia - Chandelier

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